Procissão em Lavras, década de 1920 (Arquivo da UFLA) |
(Grafia original)
"A Semana Santa correu como nos annos anteriores: as mesmas ceremonias, as mesmas procissões.
Do meu camarote, isto é, da minha janella, assisti com curiosidade e interesse o desfilar do povo em dupla fila, empunhando velas accesas, como um bando de vagalumes enormes, em formatura. Iam todos compenetrados, com aquellas phisionomias solemnes que caracterizam os mineiros; velhos de longas barbas brancas, rapazes e crianças, de olhos espantados e irriquietos, e no fim o longo acompanhamento de homens, senhoras e senhorinhas, formando uma multidão silenciosa, respeitosa e ordeira.
Nos rostos dos camponezes não se via aquelle sorriso irônico e aquellas maneiras irreverentes que caracterizam o povo dos grandes centros. Lia-se na multidão a emoção e o recolhimento que transbordavam de sua alma simples e rude. As imagens nos andores, os canticos e as rezas, empolgam e fascinam as multidões. É nessas exterioridades que reside toda a força e influencia do catholicismo. Também eu confesso que não deixei de ficar um pouco emocionado na procissão do enterro, quando á noite, illuminado pela luz fraca das velas de cera passou o grande andor carregado por pessoas vestidas á caracter, como os personagens da Bíblia. Que Magdalena encantadora! Aquella Verônica de talhe esbelto e elegante, com sua physionomia de Judaica mal encoberta pelo véo negro, entoando canticos biblicos repassados de poesia e melancholia a todos encantou".
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Folha de Lavras, 26 de abril de 1908.
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