O Carrasco em seu leito de morte na prisão de Ouro Preto, 1884 |
"Fortunato José, natural da freguesia de Lavras, era escravo de João de Paiva, cuja viúva, Da. Custódia, criou-o com excepcional bondade e carinho. Esse tratamento generoso, quase maternal, não impediu que no moleque Fortunato se desenvolvessem os maus instintos que uma natureza ingrata lhe implantara, e tanto que ele bem cedo entregou-se ao jogo, à embriaguez e a outros vícios. Admoestado freqüentemente, mas com brandura, por sua senhora, criou-lhe ódio e, um dia, enfurecido, prostrou-a morta com um bordoada certeira. Foi isto em 1833; tinha, então, 25 anos o miserável, predestinado a uma vida medonha e abominável. Preso, julgado e condenado à pena última (enforcamento), foi recolhido à cadeia de Ouro Preto. Mas aquela pena não teve execução, sendo de facto, por acordo com o assassino, comutada na de prisão perpétua com a obrigação de servir de algoz a outros miseráveis condenados à forca.
Fortunato dizia-se empregado público, no seu ofício de executor da justiça...
Ele próprio forneceu a relação das execuções que consumara até 1874 (d'então em diante não as houve mais no Brasil), tendo sido as primeiras em Ouro Preto, no ano de 1833, no dia de Natal! As vítimas foram dois desgraçados escravos. Declarava Fortunato que essas primeiras execuções lhe repugnaram, repugnância que reaparecia sempre que era forçado a enforcar mulheres!... Quanto aos homens, ‘ficou habituado a cumprir a sua obrigação insensivelmente!...’
Disse que, de ordinário, os sentenciados revoltam-se contra os sacerdotes que buscam suavizar-lhes os tristes últimos momentos. Nos primeiros anos de seu officio, dormia em comum com os demais presos, inclusive aqueles que ele tinha em breve de enforcar. Mas estando na cadeia de Pitanguy, de um desses sentenciados, armado de faca, teve que dar cabo antecipado, pelo que apresentava nas mãos feias cicatrizes. Desde então passou a dormir separado dos presos condenados. Reclamava que devendo o emprego ser-lhe rendoso, pagavam-lhe pouco: 12$00 quando havia parte interessada; ou 4$00, quando o pagamento era feito só pela municipalidade. (...)
Alto, musculoso e ainda forte em 1877, apesar dos seus 69 anos, dos quais 44 na prisão, queixava-se apenas de sofrer reumatismo, acrescentando pacatamente que "se obtivesse a liberdade iria viver sossegado em algum canto".
Fortunato dizia-se empregado público, no seu ofício de executor da justiça...
Ele próprio forneceu a relação das execuções que consumara até 1874 (d'então em diante não as houve mais no Brasil), tendo sido as primeiras em Ouro Preto, no ano de 1833, no dia de Natal! As vítimas foram dois desgraçados escravos. Declarava Fortunato que essas primeiras execuções lhe repugnaram, repugnância que reaparecia sempre que era forçado a enforcar mulheres!... Quanto aos homens, ‘ficou habituado a cumprir a sua obrigação insensivelmente!...’
Disse que, de ordinário, os sentenciados revoltam-se contra os sacerdotes que buscam suavizar-lhes os tristes últimos momentos. Nos primeiros anos de seu officio, dormia em comum com os demais presos, inclusive aqueles que ele tinha em breve de enforcar. Mas estando na cadeia de Pitanguy, de um desses sentenciados, armado de faca, teve que dar cabo antecipado, pelo que apresentava nas mãos feias cicatrizes. Desde então passou a dormir separado dos presos condenados. Reclamava que devendo o emprego ser-lhe rendoso, pagavam-lhe pouco: 12$00 quando havia parte interessada; ou 4$00, quando o pagamento era feito só pela municipalidade. (...)
Alto, musculoso e ainda forte em 1877, apesar dos seus 69 anos, dos quais 44 na prisão, queixava-se apenas de sofrer reumatismo, acrescentando pacatamente que "se obtivesse a liberdade iria viver sossegado em algum canto".
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