quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Quem seria o "Senhor de Lavras"?

Façamos uma pequena brincadeira genealógica.

Até as vésperas da Independência, vigorava no Brasil a Lei das Sesmarias, instituto jurídico português que normatizava a distribuição de terras destinadas à produção agrícola. Esta sistema foi suspenso pelo príncipe-regente d. Pedro de Alcântara em 1822, até ser definitivamente abolido a partir da promulgação da Lei de Terras em 1850.

Lavras foi colonizada pela família de Francisco Bueno da Fonseca, que recebeu a primeira carta de sesmaria confirmando sua posse em 1737.

Suponhamos assim que a Lei das Sesmarias ainda vigorasse, e que os Bueno da Fonseca mantivessem intactas suas posses até hoje, eventualmente tornando-se aristocratas ou mesmo uma nobreza titulada. Quem seria, assim, o "Senhor de Lavras" atualmente?

Tendo a genealogia dos Bueno da Fonseca pesquisada por Ary Florenzano, Regina Junqueira e Bartyra Sette, é necessário, em primeiro lugar, determinar o critério de sucessão: (a) primogenitura agnática -- que excluía a sucessão feminina, tal como nas monarquias franco-germânicas; (b) primogenitura de preferência masculina, modelo ibérico também usado no Brasil; (c) primogenitura absoluta, modelo utilizado pela maioria das monarquias européias a partir do Século XX.

"Senhores de Lavras". Critério (a)

1.º) 1720-1752 -- Francisco Bueno da Fonseca. (Capitão-mor).
2.º) 1752-1779 -- Diogo Bueno da Fonseca "I". (Filho do anterior).
........................ -- Diogo Bueno da Fonseca "II". (Filho do anterior).
3.º) 1779-1839 -- João Crisóstomo da Silva Bueno. (Filho do anterior).
4.º) 1839-1858 -- Boaventura da Fonseca e Silva. (Filho do anterior).
5.º) 1858-........ -- João Ventura da Silva. (Filho do anterior).

João Ventura faleceu sem deixar geração, extinguindo a linha masculina de João Crisóstomo. Torna-se então necessário buscar "herdeiros" entre outros filhos de Diogo Bueno da Fonseca "I" -- José da Fonseca Leme (1750-1795) ou o capitão Valentim da Fonseca Bueno (n. 1755), lembrado na nossa história por ter organizado a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário em 1810. A genealogia do primeiro se perde em meados do Século XIX, com João (n. 1857), filho de Vicente Ferreira Pedroso, enquanto a do segundo chega até o Século XX, entre os descendentes de José Joaquim Machado (n. 1891). Em suma, de acordo com o critério da primogenitura agnática, acredita-se que quem seria o atual "Senhor de Lavras" esteja na família Pedroso ou Machado.

"Senhores de Lavras". Critério (b)

Segundo o critério da primogenitura de preferência masculina, após a morte de João Ventura da Silva, a sucessão recairia na descendência de sua tia mais velha, Francisca de Paula Oliveira, casada a 13 ago. 1820 com o capitão Joaquim José Pedroso.

................... -- Francisca de Paula Oliveira.
................... -- João Crisóstomo Pedroso. (Filho da anterior).
6.º) n. 1864 -- João Evangelista Pedroso. (Filho da anterior). Família em Perdões.
7.º) n. 1887 -- José Evangelista de Alvarenga. (Filho do anterior).
8.º) João Evangelista de Alvarenga. (Filho do anterior).

Sendo a fonte de Florenzano escrita nos anos 1940, não sabemos como continua a sucessão.

"Senhores de Lavras". Critério (c)

Pelo critério da primogenitura absoluta, a sucessão de João Crisóstomo da Silva Bueno seria diretamente através de sua filha mais velha, a já citada Francisca de Paula Oliveira. Após ela, também viria seu filho João Crisóstomo Pedroso, modificando-se a partir daí.

3.º) 1779-1839 -- João Crisóstomo da Silva Bueno.
4.ª) ................. -- Francisca de Paula Oliveira. (Filha do anterior).
5.º) ................. -- João Crisóstomo Pedroso. (Filho da anterior).
6.ª) n. 1859..... -- Francisca Augusta de Carvalho. (Filha do anterior).
7.º) ................. -- José Ferreira de Carvalho. (Filho da anterior).
8.º) ................. -- João Ferreira de Carvalho. (Filho do anterior).
9.º) ................. -- José Ferreira de Carvalho. (Filho do anterior).

Conforme dito, a fonte é dos anos 1940, mas é certa que a sucessão continue na família Carvalho.

== // ==

Nota 1: Esta "brincadeira" segue a linhagem de Diogo Bueno da Fonseca "I", embora este não fosse, aparentemente, o filho mais velho de Francisco Bueno, o qual teria sido Salvador Jorge Bueno. Não obstante, preferimos a linha do primeiro por ser esta concentrada na região de Lavras, enquanto a do último manteve o espírito bandeirante e se espalhou por outras regiões do Brasil. Um de seus ramos, como registra Florenzano, apesar de três quebras de varonia, transitou entre Goiás e Lavras -- os Fleury.

Nota 2: Também outra filha de Francisco Bueno aparenta ser mais velha que Diogo, Isabel Bueno da Fonseca, casada com Bartolomeu Bueno do Prado. Se as linhas anteriores seguem critérios puramente genealógicos, com o empecilho de que em dado momento no Século XIX a família transferiu-se para Perdões, a linhagem de Isabel Bueno estabeleceu-se continuamente em Lavras, sendo composta por personalidades preponderantes na história local. Em verdade, estudos que relacionam estas pessoas às suas terras poderão confirmar serem elas proprietárias de vastos terrenos em áreas nobres do atual centro de Lavras, segundo alguns indícios. Assim, estabelecendo este critério pragmático da propriedade de terras à nossa busca pelo "senhor de Lavras", a linha poderia ser esta:

1.º) 1720-1752 -- Francisco Bueno da Fonseca. (Capitão-mor).
2.º) 1752-1779 -- Diogo Bueno da Fonseca "I". (Filho do anterior).
........................ -- Diogo Bueno da Fonseca "II". (Filho do anterior).
3.º) 1779-1839 -- João Crisóstomo da Silva Bueno. (Filho do anterior).
4.º) 1839-1874 -- Dr. Joaquim Bueno Goulart Brum. (Sobrinho-terceiro do anterior).
5.º) 1874->1908 -- José Goulart Vilela Bueno. (Filho do anterior).

O dr. Joaquim Bueno Goulart Brum (1810-1874) casou-se com Severina Vilela de Andrade. Esta, por sua vez, era ligada à família Botelho e descendia de Júlia Maria da Caridade, uma das três ilhoas. O filho do dr. Joaquim era José Goulart Vilela Bueno, falecido após 1908. Era farmacêutico e não se casou, tendo, porém, filhos naturais reconhecidos em testamento, dos quais se destacam membros das famílias ilustres Goulart e Gomes Guerra, além de ramos ligados aos Silva Pena. Enfim, basicamente as famílias mais poderosas e influentes de Lavras, pelo menos até meados do Século XX.

Um comentário:

  1. Muito interessante. Sou descendente de Amador Bueno, o Rei Aclamado de São Paulo.
    Minha avó , Maria da Conceição Goulart era irmã de Átila Goulart (o Titila).
    Todos nascidos em Lavras.
    Gostaria de saber mais de minha família.
    abraços

    RONALDO DOURADO GALUPPO
    Belo Horizonte

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