Em outubro de 1930 estoura a Revolução que depôs o presidente Washington Luís, encerrando assim a República Velha. Minas Gerais foi um dos Estados que aderiram às forças rebeldes, ao lado da Paraíba e do Rio Grande do Sul. De acordo com o tenente-brigadeiro-do-ar Nelson Freire Lavenère Wanderley [História da Força Aérea Brasileira, 2.ª ed., 1975], naquele mês quatro aeronaves aliadas aos revoltosos partiram do Campo dos Afonsos (atual sede do Museu Aeroespacial, no Rio de Janeiro) com destino a Belo Horizonte. O jornal O Revolucionário, de Barbacena, conta que os aviões fizeram vários vôos nas regiões de Juiz de Fora e São João del-Rei. O intuito destas missões eram tanto para reconhecimento do terreno quanto de cunho psicológico, isto é, ameaçar de bombardeio os quartéis que não aderissem à revolução e também lançar folhetos incitando às tropas a não lutarem.
Morane-Saulnier MS. 130.
Foi um avião como este, de fabricação francesa,
o primeiro a pousar em Lavras em 1930 [Foto J.D. Millman, 2009].
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O “CAMINHÃO VOADOR” – Neste contexto, conta Paulo de Oliveira Alves [Lavras, Primórdios do Automobilismo e Mais, 2.ª ed., 2005] uma curiosa anedota: “numa roça perto de Itumirim, moravam duas lavadeiras que conheciam como único veículo motorizado, o caminhão do avô do cardiologista Dr. José Marcus Alvarenga. O veículo passava por lá, nas idas à fazenda. Elas nunca tinham ouvido falar do ‘aeroplano’ e estavam tranqüilas à beira d’água, quando foram surpreendidas com o roncar entre as nuvens do primeiro avião à cruzar aquela rota. Tomadas de susto e pavor, uma gritou para a outra: ‘Cumade do céu... óia adonde ta passano o caminhão do sô Zequinha Ribero! É o fim do mundo!’ Quase sem fôlego retrucou a outra: ‘Cumade, num pode ser... Deve de sê o Divino Sprito Santo, pruquê ele evêm in cruiz!’ E saíram as duas em desabalada carreira, enfrentando marimbondos e pulando até cerca de arame farpado e até hoje não se sabe vem, onde foram parar as apavoradas senhoras...”
E O PÁSSARO POUSOU! – Bi Moreira, em artigo do jornal A Gazeta de 1939, diz que um desses aviões chegou a pousar, por descuido ou por falta de gasolina, nos terrenos da Escola Agrícola – que hoje é a UFLA. Como foi este acontecimento, nas palavras do museólogo: “foi em Outubro de 1930, em plena revolução. Quando se ouviu o ronco do motor foi um Deus nos acuda! As casas ficaram desertas mas as ruas pareciam formigueiro. E o avião começou a contornar a cidade. E o povo, cá em baixo, de bôca aberta, admirando a evolução do bichinho. Como o período era revolucionário, um popular aventurou: será o inimigo? – Não – retrucou outro – êle está procurando aterrissar. E estava mesmo. Não encontrando lugar apropriado, o piloto resolveu aterrissar de morro acima. E fê-lo com muita perícia, mas o causo é que havia um tôco que o piloto não vira da etérea altura. E o passarinho virou uma cambalhota. Não precisamos dizer que, quando o piloto saiu do avião, os terrenos da Escola Agrícola apanhavam, já, uma multidão, que, na ânsia de ver a águia motorizada, sopesou as plantações e venceu obstáculos que, em condições normais, se considerariam instransponíveis! Ah! se fosse um inimigo! Os fotógrafos amadores e profissionais esgotaram os filmes e as chapas. E a infeliz aterrissagem passou a ser o assunto de tôdas as rodas até alguns dias depois do bichinho ter batido asas”.
O SEGUNDO POUSO – Depois deste pitoresco evento, os céus de Lavras continuaram a ser cortados pelos pássaros metálicos, mas demoraria quase nove anos até que um segundo avião aterrissasse na cidade. Foi numa segunda-feira, 20 de março de 1939. Diz Bi Moreira que “desta feita foi o campo de aviação do 8.º B. C. M. que se transformou num formigueiro humano. Os automóveis de praça não deram para as encomendas. Bicicletas, cavalos, pé 2, todos os meios de locomoção foram requisitados pela curiosidade”. No ano seguinte, em 1.º de novembro de 1940, seria fundado o Aeroclube de Lavras.
Pena que no Brasil Nao temos nenhum exemplar desta aeronave historica.
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