sexta-feira, 23 de junho de 2023

Oficinas da Estrada de Ferro Oeste de Minas (1918)

...em ruínas, porém ainda mais bela que muitos edifícios modernos recém construídos em nossa cidade.

Capistrano de Abreu, escritor e poeta cearense, percorreu em 1918 boa parte da EFOM então existente. Ele relata a viagem, onde uma das estações citadas era Lavras, a seu amigo João Lucio de Azevedo em carta de 7 de agosto de 1918 enviada do Rio de Janeiro: "Semana passada reuni-me a uma comitiva que ia percorrer uma parte de Minas Gerais servida pela E. F. Oeste de Minas que ainda não visitara. Fomos pela E. F. Central até Barra Mansa, donde fizemos rumo à Mantiqueira, beiramos depois um trecho navegável do rio Grande (alto Paraná), passamos depois à bacia do S. Francisco até Belo Horizonte e só a deixamos pela do Paraibuna e Paraíba, primeira estrada entre o rio e as serras do Ouro, por onde a E. F. C. B. nos restituiu ao ponto de partida. Embarcamos 5ª feira às 11 da noite, chegamos 2ª quase às mesmas horas. Pouco faltou para completarmos 2.000 quilômetros. Iam o Ministro da Viação, com quem tenho relações vagas, e o Presidente de Minas, eleito Vice-Presidente da República no próximo quatriênio (nota deste autor: trata-se de Delfim Moreira), a quem fui apresentado um pouco a contragosto. Houve almoços, jantares, discursos, hino nacional a valer. Passamos por Turvo, Lavras, Oliveira, Itapecerica, Divinópolis e Belo Horizonte. Não havia veículos, exceto em Lavras, onde existe uma linha de bondes, e de tantas cidades só apreciei o que é visível da estação ou do trem. Em Lavras, além de um grupo escolar dirigido por pessoa competente, há um colégio protestante com internato numeroso para meninos, escola agrícola e curso para meninas. Com o diretor, Dr. Gammon, conversei bastante: pareceu-me homem de valor. É natural de Virginia, portanto, estadunidense, como começam a dizer. De sete em sete anos tem uma licença e vai refazer-se. Em geral não volto satisfeito de excursões ferroviárias. O traçado primitivo devia cortar plantações, mas hoje à beira das linhas apenas se avista uma vegetação que não teve ainda tempo de virar capoeira. Só em um ponto ou outro veem-se cabeças de gado. Ainda mais aborrecem os cortes, que por baixo de uma tênue camada de terra aproveitável mostram jazidas de rocha em grau variado de decomposição".

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