domingo, 2 de janeiro de 2022

As Idades das Trevas de Lavras: perdendo nossa memória

Ano passado calculo ter recebido mensagens ou visitas na Casa da Cultura de cerca de 50 pessoas. São alunos e pais que precisam de informações para trabalhos escolares; universitários que pesquisam notícias sobre patrimônios, edificações, ruas e bairros; cidadãos curiosos por informações sobre fatos históricos ou levantamentos genealógicas; e mesmo pesquisadores de outras cidades e Estados que procuram dados mais complexos.

Sempre houve e sempre haverá esta demanda. De fato, através das gerações, também sempre houve memoralistas e colecionadores que preservaram estas histórias embora, por outro lado, muito também é perdido ou esquecido por falta de uma ação intencional e bem direcionada no que tange a política de arquivos e museus.

Em Historiografia, costuma-se usar o termo "Idade das Trevas" para épocas com poucos registros históricos e documentais. É compreensível que alguns períodos tenham deixado poucas fontes escritas. Certamente não é o caso atual; todavia é bem provável que historiadores do futuro terão grandes dificuldades em estudar alguns períodos e temas pelo desaparecimento de muitas fontes preciosas.

Alguns tesouros talvez estejam invariavelmente perdidos; talvez, com sorte, ainda possa ser encontrados. Entre os documentos fundamentais que estão desaparecidos, listamos estes:

As Atas da Câmara Municipal entre 1832 e 1937. Certamente esta é a perda mais grave do patrimônio arquivístico lavrense. Eram livros manuscritos em bela caligrafia, conforme descrito por Hugo de Oliveira em sua obra publicada em 1984. Portanto, pelo menos até a década de 1980, tais atas ainda estavam na Câmara. Talvez elas se perderam em alguma das mudanças de sede do poder legislativo na última década; o fato é que atualmente ninguém consegue explicar onde esta valiosíssima documentação pública está.

Arquivos do Poder Executivo. O Arquivo Público Municipal "Ary Florenzano" existe apenas em lei, mas ainda não foi implementado. Este arquivo poderia salvaguardar os documentos públicos permanentes, isto é, os conjuntos de documentos de valor histórico, probatório e informativo que devem ser definitivamente preservados. Sem este arquivo, muitos documentos relevantes estão se perdendo.

Arquivos Institucionais. O mesmo problema visto com os documentos públicos se aplicam a certos arquivos de instituições e entidades que atravessam gerações. Um caso emblemático é o da Banda Euterpe Operária, fundada em 1910 e bem municipal protegido por registro, cujo arquivo possui muitas lacunas. Ainda assim, sua situação parece melhor que outras entidades cívicas, culturais, educacionais e desportivas  que possuem mais de 70 anos.

Arquivos Pessoais. Algumas personalidades lavrenses que produziram ou acumularam arquivos pessoais relevantes geralmente são as grandes guardiãs da preservação de nossa história local. Infelizmente, às vezes, seus descendentes não possuem a mesma visão e estes documentos ou objetos acabam se perdendo -- até mesmo no lixo muita coisa acaba.

Arquivos Culturais. Esta certamente é a perda mais sentida. Imaginem se os textos das peças de teatro abolicionista do prof. Azarias Ribeiro, as poesias e livros do dr. Augusto Silva não tivessem se perdido? Talvez alguma cópia ainda exista por aí. E o que falar então das produções literárias, musicais, teatrais dos séculos XIX e XX? Tudo isso se perdeu, "como lágrimas na chuva".

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