sábado, 14 de março de 2015

Saudades da Monarchia (1914)

Folha de Lavras. Lavras, Ano XXI, n. 919, 13 set. 1914

Saudades da Monarchia...

Republica é, não ha negar, o regimen de governo idéal para os povos fortes e Moraes, cujo gráu de civilização coincida com uma índole ordeira e intelligente, talcomo se dá com a Repubica dos Estados Unidos da America do Norte, o unico governo republicano organisado e forte no mundo.


Todavia ou por isso mesmo, é o systema de governar mais nocivo que ha, para os povos semi-civilisados e ordinariamente turbulentos e inconscientes, tornando-se muita vez, caminho do anniquillamento... mórmente, quando esse frenetico delyrio de republicas frebicita os povos de origem latina. Lancemos um olhar por sobre o horisonte do mundo, e só encontraremos uma Republica de verdade: forte, sensata e progressista, – a patria yankee. As outras pseudo-republicas nada mais seriam que desopilantes vaudevilles, si a injustiça e a dissolução que dellas decorrem não ferissem a civilisação e não escamoteassem do Direito. A América, então, é exhuberante na comprovação do que acabo de afirmar; cada republica sul-americana é um verdadeiro pandemonio, onde o interesse egoistico dos potentados é a lei e a mora é o dinheiro. No nosso paiz, por exemplo, nada mais exquisito que a nossa tão decantada democracia... de prestidigitação. Aqui, o povo soberano jámais deixou de ser humillimo lacaio, não de S. M., mas de Sª. Exª. Enquanto o thesouro publico é fonte inexgotavel de ventura para o sangue azul dos aristocraticos delegados do povo, seus parentes e amigos, o povo soberano, de fome devorando as unhas, dórme o seu pesado somno da ignorancia no morno ambiente de sua inconsciente pusillunimidade.

Povo, sem raça, provindo de origens assás duvidosas... necessitando, como nenhum outro, de hygiene e educação, aqui nasce já ferreteado pela syphilis e outras táras, congenitamente degenerado, e cresce á revelia, com essa propensão para a ociosidade, o crime e immoralidade, proprias dos phisicos corrompidos, formando, assim, essa grande cohorte de cambaleantes enfermos, sem idéas fortes, sem moral energica. Dahi o marasmo do nosso meio, atormentado por tantos elementos de decomposição, e desleixado e esquecido pelos nossos estadistas, que, ou não têm noção do que é dirigir um povo ou, tendo-a, não n’a querem praticar!... Abandonado, ignorado e ráde, o povo permanece eternamente atolado ou no fanatismo idolatra ou na sensualidade bestial do materialismo inculto e viciado.

 A justiça, outrora digna e magestosa, prescindio da facha da imparcialidade, para poder brandir com equidade a espada da Lei no terreno do Direito... e hoje, olhos dilatados e phisionomia congesta, escudeia os criminosos eminentes, e, aguçado punhal em punho, fére no peito o desgraçado povo... soberano na triste resignação de ser tratado como um vil leproso! – Mencionar todos os erros da falsidade do nosso actual regimen é tarefa assás sediça; são as decorrencias da anarchia, da immoralidade, do materialismo inculto, do predominio do dinheiro... onde todos mandam e nenhum é responsavel!...

 Feudaes e vassallos... pobre Brazil! Dahi o murmurio do povo: – “Que saudades da Monarchia!”

 B.H., 1—9—914.

Gonzaga de Mello.

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